ARS: A Escalada dos Protestos no Brasil


raquel.23.banner.jpgDesde sexta-feira vemos uma escalada nos protestos que começaram focados contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo. O protesto não é novo, já aconteceu em Porto Alegre há alguns meses. Entretanto, desta vez, os protestos estão escalando e escalando num nível bastante impressionante. Hoje e durante a semana, há uma agenda de protestos em várias cidades brasileiras.

Eu, o Fábio Malini e o Marco Toledo Bastos começamos a discutir isso na sexta, numa conversa que começou no Twitter e depois migrou. Passamos a coletar os dados conjuntamente, analisar e discutir um pouco o que estava acontecendo. O Malini já fez um belo post discutindo o que aconteceu em São Paulo no dia 13. Eu escrevi um resuminho para o Digital Media and Learning

Ao que parece, a escalada dos protestos deve-se simplesmente à violenta repressão, narrada ao vivo nas e pelas redes sociais dos manifestantes em São Paulo e ontem, no Rio de Janeiro. Os inúmeros relatos, vídeos, fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma mobilização de grandes proporções. O que eu vou tentar fazer aqui é mostrar algumas evidências disso. A rede de pessoas falando/preparando os protestos, o número de hashtags utilizadas, os públicos que passaram a mobilizar-se na mídia social agora são muito mais heterogêneos. Há várias causas e não apenas uma. Há vários motivos. Mas o vilão é um só: o Estado. 

Vejam, por exemplo, a mudança das hashtas que representam o protesto e que são mais narrativas (#sp13j, #passelivre, #protestosp) e etc. por hashtags com palavras de ordem (#todarevolucaocomecacomumafaisca, #vemprarua, #hackeiaG1, #abaixoredegloboopovonaoebobo e etc.). Vejam que ontem o Twitter amanheceu com apenas dois TTs de protesto. Hoje, depois dos eventos do Rio ontem, há um aumento dessas tags.

TTs16060907.jpg
tts17060724.jpg


(A esquerda, TTs Brasileiros do dia 16/06, as 09. A direita, os mesmos no dia 17/06, as 08.)

Vejam a diferença no uso das hashtags mais emergentes x mais narrativas dos movimentos (mapa criado via Topsy):
hashtagscomparatiba.jpg
(Clique na imagem para ver em tamanho maior)

Agora os grafos. Vejam por exemplo, como começaram as movimentações em torno da hashtag #passelivre no Twitter na sexta-feira, antes do protesto na Paulista. Observem a participação e o formato da rede. É uma rede mais clusterizada, onde há um centro de indivíduos comentando e tomando parte na movimentação. É uma rede com 457 atores e 2196 tweets que os conectam. (Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

passelivreimagem.png


A seguir, a palavra "protesto" está nos TTs. Vejam o que acontece com a participação na conversação: Não há mais um único centro, um único grupo, mas um monte de atores participando do assunto. Há uma escalada na conversação. A rede passa a ter 3899 atores e 4219 tweets. (Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

protesto1406.png


Tag #ProtestoRJ
Agora vejamos o que acontece com o protesto no Rio. A tag começou a aparecer pouco antes do jogo. Vejam a evolução da conversação conforme as notícias a respeito da violência na repressão vão se espalhando. O primeiro mapa começou a ser montado no meio do jogo, por volta de 17h. Temos 3006 nós e 3721 tweets. Na periferia, temos os indivíduos que apenas tuitaram usando a tag. No centro, os atores que repassaram tweets e que mencionam outros atores na conversação. A média do coeficiente de clusterização é 0,007 (o quanto a rede está interconectada). (Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

protestosrj18connected.png

Logo a seguir começam as notícias da violência. Vejam o que acontece com a rede. Perto das 19h já são mais de 4870 nós e 6674 tweets. As cores representam os clusters. A média do Coeficiente de Clusterização passa a 0,008. As conversações se descentralizam, as notícias são rapidamente repassadas. Não há mais centros. Há inúmeros relatos circulando, inclusive, de censura de informações pela televisão, o que parece indignar ainda mais gente. Há uma maior densidade das narrativas. (Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

grafoprotestorj16061820.png

Essa descentralização e a popularização das hashtags parecem sugerir que há uma participação cada vez maior das pessoas na mobilização (comparem com a primeira hashtag descritiva, do #passelivre) e uma tendência a que essa conversação atinja também outras redes, e que se torne menos homogênea (como no primeiro mapa). Ou seja, a movimentação parece perder uma homogeneidade de centro do protesto (contra as tarifas de ônibus) e parece pluralizar várias reivindicações e indignações (Copa, falta de hospitais e saúde pública, tarifa, rede globo e a manipulação da informação e etc.). O movimento assemelha-se ao que vimos dos Indignados na Espanha, atingindo grupos sociais diferentes daquele inicial. E ao que parece, quanto piores os relatos que chegam dos protestos, mais material sobre eles se encontra na Rede. A hashtag #ProtestoBH, por exemplo, referente as narrativas do mesmo protesto que aconteceu em Belo Horizonte, quase não tem repercussão (menos de 500 tweets) e na maioria, os relatos são referentes ao quao tranquila foi a manifestação. Em compensação, a hashtag do protesto no Rio tem um eco muito maior, principalmente relacionado aos relatos de violência. 

Hoje teremos mais protestos. Esperemos que as narrativas concentrem-se na tranquilidade das manifestações e que seja realmente um ato pacífico.

(Todos os mapas deste post gerados com o NodeXL.)