junho 19, 2011

#GTCiber na Compós 2011 Semana passada tive a honra de participar do GT de Cibercultura da Compós. Fazia um ou dois anos que não participava e foi uma experiência muito rica, divertida, gronf, cheia de questões e com muito mais perguntas do que respostas. Pois bem, um dos participantes, o Marco Toledo Bastos, apresentou o texto dele com um acompanhamento gráfico do GT no Twitter feito com o Gephi. Como eu sou uma baita imitona, fiz o mesmo com o NodeXL (e a pedido da @camisfm). Várias infos divertidas para quem participou no Twitter. Mapeei quem falou o que com a tag #gtciber. Quem não usou muito a tag (@mcaquino, estou olhando pra ti) vai aparecer com uma participação bem menor do que efetivamente realizou. (Cliquem nas imagens para ver os grafos em tamanho maior.)

Os mais citados

gtcibermentions2.jpg

O primeiro grafo é o de interações, ou seja, quem foi "mais falado" e "falou mais" no GT. Vejam que interessantemente, foram os mais viciados. Separei os componentes por cores e temos hubs de 1o e 2o nível. No primeiro nível, temos os populares @gabizago, que fez a cobertura "oficial" do GT, @alexprimo e @adriaramaral. Foram, de longe, os mais citados. A seguir, vêm esta que vos escreve (vejam que minha rede está um tanto sobreposta a da @gabizago, pois apresentamos trabalho juntas), o @consoni (rede bastante sobreposta a do @alexprimo), a @mcaquino, e o @marcobonito, uma das maiores "pontes" entre os vários componentes. Ainda aparecem o @falc4o, o @erickfelinto, a @sibonei, a @fatimaregis e o @fabiomalini (cada qual com outra subarvore de citações), que seriam hubs de terceiro nível. Notemos que parece ter acontecido uma conexão forte entre quem tuitou informações do evento e a maior quantidade de citações. Foram 206 nós (atores) participando das conversações.

E quem segue quem?

gtciberfollowers.jpg

Interessante notar que, apesar disso, os participantes do GT (tanto online quanto offline) formam um componente gigantesco em termos de seguidores. Todo mundo parece seguir ou ser seguido por quase todo mundo. Ou seja, podemos não nos citar (como alguém mencionou no GT), mas certamente estamos nos acompanhando fortemente. Só para vocês terem uma idéia, a distância geodésica média foi 2 graus (ou seja, dois graus de separação em média entre o pessoal). Deixei as cores dos nós anteriores, apenas para mostrar como os hubs se desfazem. Há um grupo de pessoas "mais conectadas" no centro do grafo, mas de um modo geral, é um dos grafos mais conectados e distribuídos que já mapeei no Twitter. Isso também é relevante na medida em que mostra um grupo com muitos interesses em comum e que está muito clusterizado (numa rede mais "mundo pequeno" para parafrasear o Duncan Watts). Somos um grupo de interesse que se acompanha (ao menos no Twitter). :-)

Update:
Atendendo a inúmeros pedidos, aí vai uma imagem com a fotinho de todo mundo que participou (grafo da rede inteira). Algumas deram problema (vi a minha e a da @adriaramaral, mas tem outras). Aí vocês podem se ver, mas as conexões ficam difíceis de analisar. :) (Cliquem na imagem para ver maior.)

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Posted by raquel at 9:39 PM | Comments (1)

junho 10, 2011

Um post sobre Metodologia e Redes Sociais #pqtwfollow2.jpgTenho recebido diversos emails com dúvidas e questões metodológicas. Como várias coisas são bem parecidas, pensei em escrever um pouco no blog a respeito. Então, primeiro é preciso fazer um esclarecimento. "Redes Sociais" ou "Redes Sociais na Internet" não são um método de pesquisa, são uma perspectiva teórico-empírica. Dizer que você está estudando redes sociais significa dizer que você está observando um determinado fenômeno a partir de uma perspectiva, de cunho estruturalista (embora eu defenda que ela também tem um foco funcional se o pesquisador desejar). Ou seja, significa que seu foco está na estrutura do sistema, que você vai observar como constituída de nós (ou nodos) e suas conexões. E há todo um foco teórico a partir desse foco, que já é construído há quase um século, como recuperei no meu livro.

Bom, também há focos metodológicos associados à perspectiva de redes sociais. Mas o fato de você escolher trabalhar com redes sociais não quer dizer, a priori, que vai ter que usar um deles. A perspectiva é bastante aberta e você pode sim usar o método que for mais adequado ao seu trabalho e ao seu problema de pesquisa. Dentro desses focos metodológicos, há quantitativos e qualitativos. A mim interessam as redes sociais na Internet. Há uma série de diferenças entre essas redes e as offline (a começar pelo fato de que são estabelecidas diante de representações dos sujeitos no espaço digital).

Focos Quantitativos

São aqueles que buscam estabelecer relações através das quantidades. A Análise de Redes Sociais (ARS), por exemplo, com sua base sociométrica é um dos principais deles. Na ARS, procura-se quantificar elementos e extrair deles propriedades mais globais, como, por exemplo, o quão clusterizada é uma rede. (O cluster é uma quantidade de nós muito conectada, ou seja, muito densa dentro da rede analisada.) Ou qual o grau de centralidade dos nós (ou o quão bem conectados eles são). Ou várias outras coisas. Aqui, geralmente trabalha-se com crawlers (softwares para coletar grandes quantidades de dados) ou mesmo com um grande set de dados obtidos pelo pesquisador. Também são utilizados softwares de análise de dados (como o Pajek e o NodeXL, por exemplo) e de desenho das redes sociais (como o NetDraw). Alguns desses softwares, como o NodeXL, são crawlers e softwares de análise ao mesmo tempo. Os focos quantitativos, em geral, são bastante interdisciplinares e há toda uma gama de ciências trabalhando com eles. O meu último post, focando a tag #smbr1995 é um exemplo de um trabalho com foco quantitativo. Mas nos meus trabalhos, tenho bem poucos com esse foco, notadamente os últimos artigos foram bastante focados em ARS (focando a difusão de informações no Twitter). Mas há vários pesquisadores que trabalham com esse foco e que você pode procurar, vou citar alguns cujo foco está nas redes sociais na Internet: Lada Adamic, Valdis Krebs, Bernardo Huberman, Scott Golder, Duncan Watts, Sandra Montardo e a Regina Marteleto (cujo foco não é bem redes sociais online, mas que tem vários trabalhos no Brasil focados em ARS) e a Suely Fragoso, que trabalha com redes de links (não são bem redes sociais, mas os princípios podem ser aplicados por analogia).

Focos Qualitativos

Também há focos que são fortemente qualitativos nas pesquisas sobre redes sociais. Esses focos preocupam-se com elementos qualitativos, como contexto, como a qualidade das trocas e como as apropriações sociais. Elementos de conteúdo, como tipos de capital social, formas de interação,construção de contexto, e estudo da conversação e etc. normalmente focam essa perspectiva para que se possa entender como acontecem. Há dois focos aqui: aqueles mais formais, que continuam explicitamente na estrutura da rede, suas constituições e seus efeitos e aqueles mais informais, que não focam a rede a partir de sua composição. Aqui, os pesquisadores estão menos preocupados com a estrutura da rede e mais com as interações dentro dela, seus efeitos, suas negociações. Este é o principal foco dos estudos das Ciências Sociais e da Cibercultura no Brasil hoje. O Alex Primo, por exemplo, busca entender como as interações constituem e influenciam essas redes e são influenciadas por elas. O José Carlos Ribeiro e os pesquisadores do GITS na UFBA também focam de forma qualitativa essas trocas em rede. A Adriana Amaral tem um foco forte nas questões culturais e subculturais nessas redes. Fora do Brasil, a danah boyd também tem um foco menos formal na sociabilidade e nas redes sociais. Já dentre aqueles mais formais, temos alguns trabalhos da Sandra Montardo, o Rogério da Costa (embora não especificamente em redes online), o Augusto de Franco e a Escola de Redes, a Gabriela Zago e eu. A maioria dos meus trabalhos tem foco qualitativo, de um modo especial, no capital social e nas conversações emergentes nessas redes.

Dentro desse foco qualitativo podem ser usados vários métodos, como etnografia virtual, análise do discurso, análise da conversação, entrevistas, análise de conteúdo e etc.

Focos Mistos

Também podemos encontrar focos mistos. Ou seja, estudos que misturam focos quantitativos e qualitativos para conseguir focar uma questão de pesquisa de modo mais amplo (é meu foco favorito, mas é bem difícil conseguir). Aqui há vários trabalhos bem legais, geralmente interdisciplinares, que pegam esse foco. Alguns:



Então, como escolher seu foco? É preciso, primeiro, definir qual é o seu problema de pesquisa e quais seus objetivos. A partir dessa definição, você escolhe qual o melhor meio de atingir o seu objetivo (quais variáveis vai usar, qual foco, quais elementos são importantes). E a partir dessas definições, você decide quais métodos são apropriados para sua pesquisa em redes sociais. :)

Para ler mais:

Artigos elencados pela danah boyd a respeito de sites de rede social

Artigos que eu elenquei e que focam redes sociais no Brasil
Posted by raquel at 9:04 AM | Comments (6)

junho 6, 2011

Analisando a rede #SMBR1995 Na sexta-feira, surgiu no Twitter uma tag interessante, a #smbr1995. Alguém decidiu postar o que seriam títulos típicos da Internet em 1995, focando mídia social, mostrando se o papo a respeito de social media existisse lá, como seria. Bem, a brincadeira foi longe, virou um dos TTs do Brasil na sexta de manhã e acabou me inspirando para crawlear o sistema e ver o que podia trazer aqui para o blog como exemplo de análise de redes. Eu vi via @Interney e fiz duas ou três contribuições. Abaixo vai um exemplo meu do que foi a idéia.

smbr.jpg


O que guiou a minha pequena pesquisa de final de semana foi tentar observar quem influenciou mais a difusão da tag e entender um pouco melhor como funciona a difusão de informações no Twitter. Só que me deparei com dois problemas: o primeiro é que o Twitter, desde o início do ano, decidiu que nós, pesquisadores, só podemos buscar os últimos 3 mil tweets ou tweets de até três dias atrás. Além disso, estipulou novos e draconianos limites de busca, que acabam comprometendo a idéia de fazer um estudo na íntegra. Assim, que o que vou mostrar a seguir está limitado pelo limite de buscas do Twitter, que infelizmente não me permitiu chegar nos inventores da brincadeira. Mesmo assim, podemos ter algumas noções de como a influência funciona.

Quem influenciou mais seguidores?

Mapeando quem segue quem e quem citou a tag, temos alguns dados interessantes. Por exemplo, várias das celebridades do Twitter aparecem como grandes influenciadores, mas twitters menos conhecidos também estão presentes. (No mapa abaixo, só estão os tweets que estão conectados a rede - ou seja, todo mundo com zero degree caiu fora.)

influenciaseguidoressmbr.jpg

No mapa acima, temos os usuários que mais seguidores influenciaram. O que eu medi foi quantos dos seguidores de cada um repassou ou tuitou com a tag #smbr1995. O primeirão foi o @inagaki, com o indegree mais alto. 73 de seus mais de 27 mil seguidores entraram na brincadeira. A seguir vieram @jonnyken, com 72 (9 mil seguidores), @preda2005, com 64 (55 mil seguidores), @pontofrio, com 59 (40 mil seguidores), @mundowalmart, 43 (44 mil seguidores), @ianblack, 43 (7 mil seguidores), @renefraga, com 42 (5 mil seguidores), @nerdpai com 39 (5 mil seguidores), @maestrobilly com 36 (14 mil seguidores). A média foi apenas 1,84 seguidores repassando a informação por nó. Uma minoria conseguiu influenciar mais de 10 seguidores.

Quem foi mais citado?

Outro tipo de influência foi a citação. Tentei mapear quais twitters tinham sido mais citados, para ver também quem acabou criando tweets mais populares ou influenciou de modo mais ativo os seguidores. No mapa abaixo, vemos apenas aqueles nós que tinham mais de 2 citações (acima de duas citações a rede fica muito grande e é difícil visualizar as árvores de citações).

smbrmaiscitados.jpg

Os usuários mais citados (dentro desses dados coletados) foram o @inagaki (de longe), @jonnyken, @renefraga, @pontofrio (surpresa encontrar um perfil comercial) e @chicobarney. Interessante notar a presença do @pontofrio. O tweet foi cheio de bom humor e referenciava brinquedos populares em 1995. ("Pense Bem, Susi e a Lá Lé Li Ló Lu Patinadora! Novidades na web loja de brinquedos do Pinguim: http://pingu.im/PinguimBonzao #smbr1995" - não consegui o print por conta do limite do Twitter).

Interessante observar que não necessariamente quem mais fez pessoas entrarem na brincadeira e usarem a tag foi quem foi mais citado. Alguns dos que mais influenciaram seguidores, como o @jonnyken, não foram quase citados nos dados. E também interessante observar que a maioria das pessoas que usou a tag não citou ninguém. Mas quando mapeia-se a rede, podemos ver mais ou menos de onde veio a influência, ou seja, quem citou a tag entre os seguidos. Dos 2057 nós analisados, apenas 983 estavam conectados seja por uma relação associativa (seguidor de alguém que citou a tag) seja por uma relação emergente (citou alguém que citou a tag). Também vemos que entre os perfis mais influentes estão perfis comerciais o que pra mim foi uma surpresa. Isso mostra que é possível criar conteúdo interessante nesses perfis e influenciar os seguidores. Outro detalhe interessante, mesmo com números muito diferentes de seguidores, alguns nós foram capazes de influenciar a mesma quantidade de pessoas (como o @jonnyken, com 9 mil seguidores, influenciou mais quee o @pontofrio com mais de 40 mil). Isso é uma evidência interessante para a questão dos tipos diferentes de influência e de como perfis diferentes conquistam a atenção de forma diferente.

Update:
Quem criou a tag e iniciou o movimento foi o @jonnyken (valeu @inagaki!)
primeiro.jpg
Posted by raquel at 8:24 AM | Comments (4)

junho 1, 2011

Com quem você fala e onde você fala na Rede? conversacao.jpg Pensando sobre o artigo do Bruno Gonçalves, Nicola Perra e Alessandro Vespignani, que foi apontado pelo IDGNow recentemente, Validation of Dunbar's number in Twitter conversations elaborei algumas idéias que pensei em compartilhar aqui. O artigo fala que as pessoas mantém conversas entre um número limitado de outras pessoas no Twitter, meio que aplicando o famoso Dunbar Number para as redes de conversação no Twitter.

Várias pesquisas já demonstraram que existe diferença entre os laços sociais e que nem todos os laços são iguais. Também há evidências bastante significativas de que uma das apropriações mais comuns dos sites de rede social é também separar e organizar as redes. Por isso, muita gente tem uma rede no Twitter, outra no Facebook, outra no Orkut e etc. Por isso, ter perfis em todos esses sites é relevante e interessante. Claro, há repetições de usos e o fato de alguém preferir o Orkut para falar com os amigos não significa que não utiliza também, por exemplo, o Twitter. Mas até agora, o que eu tenho observado também nas minhas pesquisas é que as pessoas apropriam, dependendo de seu grupo, um lugar onde dão preferência para a conversação, onde geralmente estão também seus amigos mais próximos e o grupo de laços mais fortes. Esses espaços são muito mais conversacionais que outros e também trazem elementos facilitadores do papo, como apropriações de contexto e elementos que auxliam na manutenção da conversação (mesmo quando assíncrona).

A conversação mediada pelo computador nas redes sociais é o tema do meu próximo livro, que deve sair até o final do ano e, por isso, interessa-me muito, e tenho estudado sobre essas questões. Inclusive, foi tema de duas disciplinas no PPGL que dei nos últimos anos. Pensei, assim, em iniciar uma discussão (e talvez depois, aproveitá-la para o livro) e publicar os resultados aqui. Qual ferramenta você usa para conversar? E com quem você mais conversa em cada um desses espaços? Para traçar algumas premissas sobre isso, fiz um pequeno questionário de múltipla escolha, focando questões iniciais para entender essa apropriação. Se você quiser ajudar e participar, responda aqui. Se você quiser repassar, essa é a URL da pesquisa no migre.me: http://migre.me/4H6sR
Posted by raquel at 9:03 AM | Comments (4)